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REPORTAGEM


Investigadores fazem o mapa
​
do desconforto térmico em Portugal
 
Imagem
Foto: Lili Popper
   Publicado em 13/01/2016
Um estudo realizado pela Universidade Nova de Lisboa, no âmbito do ClimaAdaPT.Local, fez um diagnóstico ao conforto térmico das famílias em Portugal e as conclusões indicam que é preciso intervir, aplicando sistemas de climatização que permitam, ao mesmo tempo, reduzir a emissão de gases com efeito de estufa (GEE) e adaptar os edifícios a eventos extremos (ondas de frio e calor) futuros. 
“As famílias portuguesas estão longe do conforto térmico aceitável, que a legislação enquadra”, afirma Júlia Seixas, professora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e investigadora do Center for Environmental and Sustentability Research (CENSE) em energia e clima.

O Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE) considera como valores de referência temperaturas interiores de 25ºC nas estações quentes e de 20ºC nas estações mais frias. Com base em informação existente sobre os edifícios (tipo e data de construção, zona climática, posse de equipamentos de climatização, entre outras), os investigadores avaliaram a energia necessária para atingir essas temperaturas no interior e, depois, cruzaram com os dados da Direção-Geral de Energia sobre a energia final que é efetivamente gasta para arrefecimento e aquecimento ao nível dos diversos concelhos em estudo.

“Essa distância dá-nos uma indicação do desconforto climático que as pessoas passam. É muito grande! Há pessoas a viver em condições térmicas muito desagradáveis. Nós passamos muito frio em Portugal”, lamenta Júlia Seixas.

Esta afirmação é suportada pelos dados do EUROSTAT obtidos no inquérito EU-SILC de 2012 onde é reportado que Portugal é o terceiro pior país da União Europeia em termos da percentagem de pessoas que reporta não ser capaz de manter a sua habitação adequadamente aquecida. Em termos de arrefecimento, e segundo o mesmo estudo, Portugal é o segundo pior país da EU.

Os dados do estudo da Universidade Nova referem-se a 26 autarquias participantes no projeto ClimaAdaPT, no âmbito do qual estão a delinear as suas estratégias de adaptação. Júlia Seixas tem estado presente em alguns workshops com agentes locais de municípios desta rede.

“Conseguimos categorizar, nos 26 municípios, a nível das freguesias, as mais resilientes e as mais vulneráveis. Temos encontrado um grande interesse por parte dos municípios. Tenho a certeza de que as autarquias ficaram muito mais alertas para este tema do conforto térmico, que nunca esteve na agenda. As Câmaras Municipais podem chamar a si responsabilidades para prioritariamente atenderem aos casos mais graves, apostando na reabilitação urbana”, confia.

Segundo a investigadora em energia e clima, algumas autarquias estão mesmo interessadas no aprofundamento e pormenorização desta análise com a intenção de intervir nos locais mais problemáticos, ao mesmo tempo que combatem as alterações climáticas.

Os investigadores foram ainda mais longe e cruzaram os dados da temperatura e do consumo de energia com características socioeconómicas, como o nível de literacia, a idade e o rendimento médio das famílias. O estudo identifica as freguesias mais críticas onde ao maior  desconforto térmico se alia uma maior percentagem da população com mais de 65 anos e com menos rendimentos. As implicações em termos de saúde são óbvias.

“Não é por acaso que as urgências entopem nas ondas de frio e nas ondas de calor”, continua a especialista, que recorda a previsão de um aumento deste tipo de eventos devido às alterações climáticas.
 
Adaptar e mitigar com uma só medida
 
Com base neste estudo, o objetivo é que seja possível atuar simultaneamente a nível da adaptação e da mitigação dos efeitos das alterações climáticas recorrendo a uma abordagem adequada do edifício.

“Podemos, com o mesmo tipo de solução, melhorar o envelope térmico do edifício e consumir menos energia. Se esta for de origem fóssil, é possível reduzir as emissões de CO2. Ao mesmo tempo, estamos a tornar o edifício mais resiliente a eventos extremos climáticos, como ondas de calor e ondas de frio, protegendo a saúde da população”, acredita.

A aposta no conforto térmico dos edifícios não poderá ser feita, obviamente, a qualquer custo. O próprio Decreto-Lei 80/2006, de 4 de Abril (RCCTE) impõe limites aos consumos energéticos para climatização e produção de águas quentes, num “claro incentivo à utilização de sistemas eficientes e de fontes energéticas com menor impacte em termos de energia primária”.

Assim, a abordagem das autarquias terá de ter em conta opções de baixo carbono disponíveis suportadas em recursos energéticos endógenos (hídrica, vento, solar, biomassa), designadamente a instalação de painéis solares térmicos e a utilização de outras fontes de energia renovável.
 

Exemplos em Bragança e Loulé
 
Todos sabem que viver em Bragança ou em Loulé faz a diferença em termos de consumo de energia útil e para aquecimento e arrefecimento, desde logo por causa da temperatura exterior. Mas há outros fatores a ter em linha de conta quando fazemos os cálculos, como, por exemplo, o ano de construção do edifício e o tipo de aparelho utilizado para a climatização.

“De uma forma simplificada e com as condições climáticas conforme o RCCTE, estima-se que um edifício urbano anterior a 1919, localizado em Bragança, tem necessidades de energia útil de cerca de 253,3 kWh/m2.ano para manter a temperatura interior nos 20 ºC durante a estação de aquecimento e de 9,7 ºC kWh/m2.ano para assegurar os 25 ºC na estação de arrefecimento”, exemplifica Júlia Seixas.

Já uma moradia no mesmo concelho construída entre 1960-1980 necessitaria de um consumo de energia útil de 440,0 kWh/m2.ano para o aquecimento e de 14,1 ºC kWh/m2.ano para o arrefecimento.

Mais a sul, as contas são outras. “Edifícios similares em Loulé necessitariam de consumos de energia útil substancialmente mais baixos: de 87,7-146,3 kWh/m2.ano para o aquecimento e de 19,5 - 9,6 kWh/m2.ano para o arrefecimento, respetivamente para os edifícios anteriores a 1919 e para moradias construídas entre 1960-1980”.

Estes valores, diz a investigadora, “traduzem as diferenças nas características construtivas do edificado e no clima dos dois concelhos. Em Loulé, atualmente a estação de aquecimento dura cinco meses, enquanto, em Bragança, a mesma é de oito meses. A temperatura exterior durante a estação de arrefecimento em Loulé ronda os 23 ºC, sendo de 19 ºC em Bragança”.
 
Aparelhos eficientes reduzem o consumo de energia
 
Assim, “o consumo de energia útil necessário para garantir os 20 ºC com o aquecimento traduz-se em diferentes quantidades de energia final, dependendo do tipo de tecnologia de climatização considerada e sua respetiva eficiência”.

Por exemplo, “no caso da moradia de Bragança, se o aquecimento for garantido com uma lareira convencional com eficiência de cerca de 35%, tem-se um consumo de energia final de 1257,2 kWh/m2.ano. Se em vez da lareira tradicional for utilizada uma lareira com recuperador de calor, com uma eficiência bastante superior (cerca de 60%), o consumo de energia final passará a ser apenas de 733,4 kWh/m2.ano”.

Para a mesma habitação em Bragança, recorrendo a um aquecimento central a gás natural ter-se-á um consumo ainda menor, de cerca de 586,8 kWh/m2.ano, dada a maior eficiência deste equipamento.
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No entanto, alerta, “ao considerar as emissões de CO2 associadas ao aquecimento, no caso do sistema de aquecimento central a gás natural tem-se mais emissões do que no caso da lareira (com ou sem recuperador de calor). Por cada kWh de gás natural consumido têm-se emissão associada de 0.202 kg CO2, ao passo que as emissões de CO2 da combustão de biomassa para produção de energia não são contabilizadas, dado as plantas terem absorvido CO2 durante o seu crescimento”.

Texto de: Cláudia Azevedo
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