Clima@Edumedia
  • O Projeto
    • Objetivos
    • Equipa
    • Financiamento
    • Atividades
    • Comunicação
  • Multimédia
    • Notícias
    • Reportagens
    • Entrevistas
    • Podcasts
    • Jornalista Júnior
    • Dicas
  • Alterações climáticas
    • Curiosidades
    • Conceitos elementares
    • Páginas de Interesse
    • Vídeos de Interesse
  • Recursos Educativos
  • Contactos
  • EN

REPORTAGEM


Espécies invasoras estão a ganhar terreno 
 
Imagem
Foto: Mimosa Flickr/John Tann
Publicado em 21/10/2015
As alterações climáticas constituem uma das mais sérias ameaças à biodiversidade. Embora se fale muito da fauna, também a flora está a ser severamente afetada, prevendo-se que algumas espécies vegetais possam mesmo desaparecer. Portugal não escapa ao problema, em especial às invasões biológicas.​
O litoral do nosso país está a braços com a “invasão” de espécies vegetais que estão, progressivamente, a ganhar terreno às espécies nativas. Estas espécies, justamente designadas por invasoras, estão a ser beneficiadas pelas alterações climáticas, designadamente por alterações dos padrões normais de temperatura e humidade.

“Neste momento, o panorama é muito grave, especialmente na zona litoral. Em muitas zonas, a vegetação nativa, autóctone, está a ser completamente substituída. A competição está a ser ganha pelas espécies não nativas”, refere Paulo Alves, do grupo Predictive Ecology (PRECOL), do CIBIO-InBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos.

As acácias são exemplos de invasoras bem conhecidas, cujo comportamento agressivo, particularmente em espaços florestais alterados por incêndios e pela degradação, é bastante evidente. As mais preocupantes espécies arbóreas exóticas (neófitas) do género Acacia são a acácia-mimosa (Acacia dealbata), a acácia-de-espigas (Acacia longifolia) e a austrália (Acacia melanoxylon).

Mas as alterações climáticas estão também a afetar a flora das montanhas. No interior do país, o aumento da temperatura põe em risco a sobrevivência de espécies endémicas existentes em certas zonas montanhosas, assistindo-se já a uma redução da área disponível onde algumas plantas nativas têm o seu nicho ecológico.

“As zonas de montanha são ‘ilhas’ de clima mais frio no meio de zonas mais quentes. Estas ‘ilhas’ são muito interessantes para a biodiversidade, permitindo que a nossa flora tenha muitos endemismos, muitas espécies características desses ambientes. O aumento da temperatura pode fazer com que algumas percam as condições para habitarem”, alerta o investigador.

Em risco estão espécies nativas raras como, por exemplo, a Armeria humilis, uma planta que cresce no topo da Serra do Gerês, e a Festuca henriquesii, que surge no topo da Serra da Estrela. 


Proliferação das invasoras à vista


Se a situação atual não é famosa, as previsões, com base em cenários de mudança climática e de uso do solo, não são animadoras. “Com os cenários de alterações climáticas, prevemos que as espécies invasoras vão começar, por um lado, a expandir-se para o interior do país, usando corredores de dispersão das sementes, como estradas e rios, e, por outro lado, a subir, em altitude, ocupando as zonas interiores”, vaticina Joana Vicente, do CIBIO.

De facto, a construção de infraestruturas rodoviárias favorece algumas espécies invasoras, como as acácias e as ervas-das-pampas. Foi o que aconteceu, por exemplo, na A25, onde as mimosas começaram a surgir e a proliferar.

Joana Vicente, que pertence aos grupos PRECOL E BIOCHANGE - Alterações Climáticas e Biodiversidade, tem também analisado os impactes das espécies invasoras, designadamente das acácias e da háquea-picante (Hakea sericea), uma espécie de arbusto espinhoso, em áreas protegidas e serviços de ecossistemas. Em geral, estas espécies produzem grandes quantidades de sementes, cuja germinação é estimulada pelo fogo, dando-se um estabelecimento rápido de populações muito densas que impedem a regeneração da vegetação nativa.

Segundo a investigadora, os principais impactes das invasões biológicas são, assim, a ocupação dos habitats das espécies nativas e a diminuição da produção florestal, até porque as espécies invasoras não podem ser utilizadas ou rentabilizadas para fins comerciais, devendo ser destruídas.

Além disso, as invasoras atuam na regulação da água, fazendo com que o solo se torne mais permeável. “Os lençóis freáticos não têm a regulação que poderiam se houvesse vegetação nativa, como por exemplo, carvalhos”, regista a especialista em invasões biológicas.

É verdade, porém, que nem todos os impactos são negativos. Sabe-se que se houver uma invasão de espécies arbóreas, ainda que invasoras, numa zona que normalmente teria espécies arbustivas, o sequestro de carbono aumenta. Outro “bom” exemplo é o chorão, utilizado para estabilizar dunas.

Atualmente, a investigadora e os seus colegas estão igualmente a trabalhar na área da Socio-ecologia, procurando perceber de que modo o impacte ecológico é sentido pela sociedade. Ao mesmo tempo, estão a avaliar se a invasão por acácias é irreversível para a certificação florestal de eucaliptos e a analisar a relação entre a invasão por acácias e o fogo em florestas de carvalho no Parque Nacional da Peneda-Gerês. 

Clima e ocupação dos solos: uma sinergia

A nível da flora, as medidas a adotar em sede de adaptação às alterações climáticas vão depender muito das práticas de uso e gestão do solo.
De acordo com Joana Vicente, “as alterações climáticas e as alterações do uso do solo atuam sinergicamente. Há espécies fortemente determinadas pelo clima, mas há espécies que são muito determinadas pela ocupação e pela gestão do solo. Nestes casos, é possível tornar as paisagens mais resilientes às alterações climáticas. Quando os solos são ocupados e geridos, as espécies invasoras não conseguem entrar ou vingar. Quando os solos estão abandonados ou em que há zonas de eucaliptos sem qualquer gestão, a invasão é impressionante”.

Além de ações de combate e erradicação das espécies invasoras, Joana Vicente e Paulo Alves recomendam também uma gestão dos espaços florestais com recurso a estratégias preventivas e adaptativas suportada por sistemas de avaliação e monitorização.

Texto de: Cláudia Azevedo
Powered by Crie o seu próprio site exclusivo com modelos personalizáveis.